As facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), embora ambas tenham nascido no sistema prisional e hoje se espalhem por quase todo o território nacional, possuem métodos de operação e estruturas fundamentalmente distintos. A análise foi feita pela desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivana David, durante participação no programa Brasil Urgente.
Questionada sobre as principais diferenças entre as organizações, a desembargadora foi enfática: "Eles são totalmente diferentes, até na forma de enfrentamento". Segundo ela, a principal distinção reside no modus operandi de cada grupo.
PCC: Um perfil "empresarial"
Ivana David explicou que o PCC evoluiu para um modelo de negócio criminoso, com um perfil "muito mais empresarial". A facção paulista se especializou em infiltrar-se em estruturas do Estado e na economia formal, utilizando empresas de fachada para lavagem de dinheiro e até mesmo participando de licitações públicas, como revelado em operações como a "Carbono Oculto" e "Fim da Linha".
"Essa estrutura de simbiose com o Estado, a nível de infiltração, é um movimento que o Comando Vermelho não tem com a mesma sofisticação", destacou a magistrada.
CV: Foco no domínio territorial
Em contrapartida, embora também seja uma organização poderosa e com grande capilaridade, o Comando Vermelho não desenvolveu essa faceta empresarial no mesmo nível. Sua atuação é mais marcada pelo confronto direto e pela dominação ostensiva de territórios, especialmente no Rio de Janeiro, onde a "guerra de facções" é mais visível.
Origens e alianças
A desembargadora lembrou que ambas as facções nasceram nos presídios e hoje estão presentes em cerca de 25 estados, frequentemente estabelecendo alianças com grupos criminosos locais. Essas alianças, no entanto, são voláteis e baseadas em interesses momentâneos. Como exemplo, ela citou o Terceiro Comando Puro (TCP) do Rio, que já foi aliado do CV e hoje é parceiro do PCC.
Essa disputa por controle territorial entre as facções e seus aliados é, segundo Ivana David, a principal causa do aumento no número de homicídios em estados como Bahia e Ceará. Em São Paulo, o índice de mortes violentas relacionadas a confrontos de gangues é menor justamente pelo domínio hegemônico estabelecido pelo PCC.