O preço do arroz vem caindo nos supermercados brasileiros, o que representa alívio para o consumidor, mas uma grande preocupação para o produtor rural. O cereal, presente diariamente na mesa da população, acumula retração de quase 20% desde o início do ano. Apenas em agosto, a desvalorização foi superior a 2%, segundo dados mostrados pelo AgroBand desta segunda-feira (6).
Apesar de ser um alimento básico e símbolo da alimentação nacional — presente em pratos como o carreteiro, o sushi e o tradicional arroz com feijão — o consumo do produto também diminuiu. Em quatro décadas, o brasileiro passou a comer cerca de 11 quilos a menos de arroz por ano. Especialistas atribuem a mudança ao aumento da oferta de alimentos industrializados e à diversificação dos hábitos alimentares.
“Ele já esteve bem mais caro, agora está mais baixo”, comentou um dos consumidores entrevistados. Outro destacou que o preço “está bem mais barato”, reflexo da oferta abundante e da queda de demanda.
Produtores enfrentam custos elevados e baixa rentabilidade
A redução dos preços tem afetado diretamente a rentabilidade dos orizicultores — produtores de arroz. Com a saca de 50 quilos sendo vendida por menos de R$ 60, o valor já não cobre o custo de produção, o que tem levado agricultores a planejar a diminuição das áreas cultivadas. A expectativa é que mais de 150 mil hectares deixem de ser plantados, com parte dos produtores migrando para outras culturas ou até para a pecuária.
“Quando há redução de área, há também perda de empregos e de renda”, afirmou um representante do setor. “É uma situação difícil, mas quem pode mudar de cultura ou de atividade precisa considerar isso.”
Mesmo após uma colheita histórica no último ano — que respondeu por cerca de dois terços da produção nacional —, o setor enfrenta dificuldades agravadas pelas crises climáticas que atingiram o Rio Grande do Sul, principal estado produtor. Diante desse cenário, produtores pedem apoio do governo federal, com políticas que ampliem o acesso ao crédito agrícola, ao seguro rural e a acordos internacionais que protejam a produção nacional.
Medidas de apoio e incentivo ao consumo
Uma das estratégias em discussão é o uso de contratos de opção de venda. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) destinou R$ 300 milhões para garantir a compra de até 200 mil toneladas de arroz na próxima safra. O mecanismo permite ao produtor vender o cereal ao governo federal por um preço fixo, reduzindo o risco de prejuízo em períodos de baixa no mercado.
Outra iniciativa vem da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), que atua para estimular o consumo interno e reforçar a importância nutricional do produto.
“O arroz continua sendo um alimento nutritivo, especialmente quando combinado com o feijão”, destacou uma nutricionista ouvida pelo programa. “Mas o ideal é manter equilíbrio e variedade no prato.”
O setor aposta que a combinação de incentivos econômicos e campanhas de valorização possa ajudar a conter a crise e garantir a continuidade da produção de um dos alimentos mais tradicionais do país.