
A queda de um avião de pequeno porte na zona rural do município de Aquidauana, no Pantanal do Mato Grosso do Sul, deixou quatro mortos na noite desta terça-feira (23).
A bordo, estavam o piloto e o proprietário do avião, Marcelo Pereira de Barros, os cineastas Luiz Ferras e Rubens Crispim Júnior, e o chinês Kongjian Yu, considerado um dos maiores arquitetos do mundo.
O grupo estava na região de Aquidauana para gravar um documentário sobre cidades-esponja.
Modelo da aeronave e registro na Anac
A aeronave é um monomotor Cessna 175, matrícula PT-BAN, e tem capacidade para quatro pessoas. O modelo foi fabricado em 1958.
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que o monomotor não tinha autorização para fazer táxi aéreo, e só podia viajar durante o dia, já que não tem equipamentos para voos noturnos ou em condições de mau tempo.
Nesse tipo de operação, o piloto precisa manter contato visual com o solo e usar o horizonte para se orientar no trajeto. Segundo depoimentos de testemunhas, já era noite quando o piloto tentava o pouso na pista da fazenda Barra Mansa.
Explosão durante manobra
O Corpo de Bombeiros esclareceu, nesta quarta-feira (24), que a queda do avião que matou o arquiteto chinês Kongjian Yu e mais três pessoas, em Aquidauana, aconteceu quando o piloto fazia uma manobra para aterrissar. A aeronave, no entanto, explodiu com o impacto.
Investigação
Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), ainda não é possível falar em prazos, mas “a conclusão da investigação ocorrerá no menor prazo possível”, conforme a complexidade da ocorrência.
Ao fim, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgará relatório com os achados e as conclusões dos peritos.
Kongjian Yu, renomado arquiteto chinês, está entre as vítimas
O arquiteto chinês Kongjian Yu, reconhecido mundialmente pelo conceito das "cidades-esponja", está entre as vítimas do acidente aéreo no Pantanal.
Sua proposta explicava como era possível ajudar a combater as enchentes. "Conviver com a água em vez de combatê-la. Em seus projetos, parques e áreas verdes funcionam como esponjas, absorvendo o excesso de chuva e reduzindo enchentes. O conceito já é referência para mais de 250 cidades no mundo e virou política nacional na China", conforme destacou o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU).
Segundo o instituto, Yu acumulou mais de 20 livros publicados e mais de 300 artigos científicos. "Seu trabalho recebeu prêmios internacionais, como o IFLA Sir Geoffrey Jellicoe Award (2020), o Cooper Hewitt National Design Award (2023) e o RAIC International Prize (2025)", disse.
Em visita ao Rio de Janeiro, Yu sugeriu, inclusive, intervenções na Avenida Francisco Bicalho para devolver espaço aos rios e mitigar alagamentos, proposta que chamou atenção da imprensa e de especialistas brasileiros, de acordo com o instituto.
De acordo com publicação da Fapesp, em seus premiados projetos em cidades na China e em outros países, o renomado arquiteto "adotava a natureza e a metodologia conhecida como soluções baseadas na natureza para absorver, limpar e usar as águas fluviais e pluviais - em vez de expulsá-las com pressa das áreas urbanas com canalizações."
Graduado na Universidade Florestal de Beijing e doutor pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, ele afirmava que era necessário adaptar-se à água, não confrontá-la, inspirando-se nos agricultores de sua infância que criavam terraços e lagos nas montanhas, vivendo em harmonia com a água.
Indicado ao Emmy é um dos mortos em queda de avião no Pantanal
O brasileiro Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz está entre as vítimas da queda de avião no Pantanal. Ferraz era diretor e cineasta com foco em documentários. O maior trabalho da carreira dele foi a série 'Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia".
A produção aborda o acidente aéreo que matou jogadores, comissão técnica da Chapecoense e jornalistas em novembro de 2016, indicada ao Emmy Internacional. Ele também foi diretor da séire "To Win or To Win", sobre o time Al Nassr, clube onde Cristiano Ronaldo atua.
Lula lamenta acidente
Em nota de pesar, Lula destacou que a tragédia custou a vida do piloto Marcelo Pereira de Barros, dos documentaristas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr e do arquiteto chinês Kongjian Yu.
“Em tempos de mudança climática, Kongjian Yu se tornou uma referência mundial com as cidades-esponja, que unem qualidade de vida e proteção ambiental: algo que queremos – e precisamos – para o futuro”, escreveu o presidente.
“A todos os amigos, familiares e colegas de trabalho das vítimas, deixo meus mais profundos sentimentos”, concluiu Lula.