Os altos juros e o crédito rotativo do cartão de crédito são apontados como fatores que elevam a inadimplência no Brasil. Atualmente, o país registra quase 80 milhões de pessoas endividadas, com uma dívida total que se aproxima de R$ 500 bilhões.
De acordo com dados do Banco Central, os juros anuais do cartão de crédito, no rotativo, atingiram a marca de 450% ao ano. Esse percentual é registrado em um contexto em que a taxa Selic, a taxa básica de juros, está em 15% ao ano, o patamar mais alto desde julho de 2006.
Embora os juros elevados ajudem a conter a inflação e preservar o poder de compra, eles complicam a vida de consumidores que usam o cartão de crédito e não conseguem quitar o valor total da fatura no vencimento. Nesses casos, o valor da fatura sobe consideravelmente devido ao impacto da alta taxa de juros.
A economista Juliana Inhasz afirma que a partir do momento em que o consumidor não quita uma parcela do cartão de crédito, ele precisa quitar o que está pendente, o que pode comprometer muito as famílias. Segundo a economista, muitas pessoas usam o cartão para programar as compras em várias vezes e, se o dinheiro não é suficiente, é preciso buscar uma nova solução. A situação pode levar a uma troca de uma dívida que já é cara por uma mais alta ainda, gerando um superendividamento.
O superendividamento é ilustrado pelo caso de Kelly Oliveira, coletora de lixo, que, para quitar dívidas do cartão de crédito e de outras contas, recorreu a uma financeira online. Ela fez um empréstimo de R$ 1.000 para pagar em 12 parcelas de R$ 276,32. No total, o valor pago é de mais de R$ 3.300 em 12 meses, mais de três vezes o valor original do empréstimo.
Kelly afirma ter se guiado pelo valor da parcela, e não pelo valor final do empréstimo. No entanto, Kelly agora enfrenta a cobrança de juros de parcelas atrasadas, que aumentaram o valor da dívida de R$ 276 para R$ 375.
Perfil do endividado e a bola de neve do crédito
Dados da Serasa, de julho de 2024, indicam que mais de 78 milhões de brasileiros estão com o nome negativado devido a dívidas que somam quase R$ 500 bilhões.
A distribuição da inadimplência por idade mostra que os brasileiros entre 41 e 60 anos são os que mais devem (35,3%), seguidos pela faixa etária de 26 a 40 anos (34%). Pessoas com mais de 60 anos representam 19,2% dos endividados, e os jovens entre 18 e 25 anos somam 11,5%.
Wesley Brandão, especialista em Educação Financeira da Serasa, explica que a bola de neve do endividamento ocorre quando o consumidor, por exemplo, utiliza R$ 2.000 de crédito, ampliando a renda momentaneamente, mas mantém o mesmo salário no final do mês. Sem conseguir pagar o total, a pessoa paga apenas o mínimo do cartão, e os juros acabam correndo sobre o restante do valor, levando ao endividamento.