
Uma foto de ostentação, na qual aparece deitado em uma cama coberta com R$ 5 milhões, é uma das peças centrais do inquérito da Polícia Federal (PF) que levou o ex-deputado Thiego Santos, conhecido como "TH Joias" (MDB), e outras 14 pessoas à prisão, nesta semana. Segundo os investigadores, a imagem é um vislumbre de um esquema milionário de lavagem de dinheiro para a facção criminosa Comando Vermelho.
A investigação aponta que TH Joias ajudou a converter a quantia da foto em dólares para a organização criminosa, um exemplo de como sua estrutura atuava para disfarçar a origem ilícita dos valores do tráfico. O esquema incluía operações de câmbio no mercado paralelo, o uso de "laranjas" e a criação de empresas de fachada.
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), utilizados na apuração, indicam que, em um período de cinco anos, o grupo de TH Joias movimentou cerca de R$ 140 milhões. De acordo com a PF, esse mecanismo garantia o fôlego financeiro necessário para o tráfico de armas e drogas da facção.
Além da lavagem de dinheiro, o ex-parlamentar usava sua rede de contatos políticos para facilitar o contrabando de armamento de guerra, que era revendido ao Comando Vermelho.
Fachada de homem da lei
O ourives, que ganhou fama produzindo joias para celebridades, tornou-se deputado em 2024 e fazia questão de cultivar uma imagem pública ligada à segurança. Ele era figura presente em solenidades oficiais, como a entrega de viaturas e homenagens a policiais, o que a investigação aponta como uma fachada para ocultar suas verdadeiras intenções.
Essa proximidade com as forças de segurança o ajudou a montar uma rede de informantes dentro da própria polícia. Esses agentes vazavam informações sigilosas que permitiam aos traficantes escapar de operações policiais.
"A função era vazamento de informação. Um deles, mesmo na reserva, ainda tinha acesso a banco de dados. Passava dados de interesse da facção. Outro fazia a segurança do transporte de traficantes, armas, drogas e dinheiro", afirmou um dos responsáveis pela operação durante coletiva de imprensa.
Policial suspeito
Um dos principais nomes dessa rede de corrupção era o delegado da Polícia Federal Gustavo Stteel, que estava lotado no Aeroporto Internacional do Rio, o Galeão. Além de vazar informações, ele é suspeito de facilitar a entrada de material ilícito no país pelo aeroporto.
Nas redes sociais, Stteel exibia uma vida de luxo, com diversas viagens internacionais. O elo entre o delegado e o ourives ficou selado de forma simbólica: uma semana antes de ser preso, Stteel viajou para Bariloche, na Argentina, onde pediu a namorada em casamento. O anel de noivado foi produzido pela TH Joias.