
A influenciadora e dançarina Thais Carla revelou no último domingo (28) que está fazendo uso do medicamento Mounjaro como parte de seu processo de emagrecimento. A informação foi divulgada exatamente três meses após ela ter se submetido a uma cirurgia bariátrica, realizada no dia 28 de abril.
O uso da medicação chamou a atenção de alguns internautas que questionaram a influenciadora sobre os riscos diante do pouco tempo de cirurgia.
O Mounjaro é o nome comercial da tirzepatida, um medicamento injetável originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2, mas que tem sido utilizado também no controle da obesidade por seus efeitos na redução do apetite e regulação da glicose.
Segundo Ramon Marcelino, endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o uso de medicamentos como o Mounjaro ou o Ozempic (semaglutida) é comum em dois momentos distintos do tratamento da obesidade: antes da cirurgia bariátrica, como forma de preparar o corpo e reduzir riscos durante o procedimento, ou após o primeiro ou segundo ano da cirurgia, principalmente em casos de reganho de peso.
“O início precoce do uso de medicamentos como o Mounjaro após a cirurgia chama atenção, pois não é a conduta mais comum. A Thais foi submetida a um bypass gástrico em Y de Roux, uma técnica com alto potencial de perda de peso. Normalmente, a perda é significativa nos primeiros dois anos, e só depois disso se avalia o uso de medicamentos”, explica o médico.
O alerta é compartilhado pelo nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), que destaca que ainda não há evidências científicas para o uso desses remédios tão pouco depois de uma cirurgia bariátrica.
“Não existem estudos concretos que recomendem o uso de agonistas de GLP-1 ou duais como a tirzepatida apenas três meses após a cirurgia. A tendência natural é que o paciente perca peso de forma gradual ao longo de até dois anos. Iniciar o uso medicamentoso nesse estágio não é uma prática respaldada pela ciência”, afirma o especialista.
Além da ausência de evidências científicas para esse uso precoce, os médicos chamam atenção para os riscos nutricionais envolvidos na combinação entre a cirurgia e o medicamento. Após o bypass, os especialistas explicam que há uma redução significativa na ingestão calórica e na absorção de nutrientes — o que, aliado a possíveis efeitos colaterais do Mounjaro, como náuseas e vômitos, pode agravar deficiências nutricionais importantes.
“Deficiências de ferro, vitamina B12, vitamina D e ácido fólico são comuns após esse tipo de procedimento. A reposição oral é obrigatória, e em alguns casos é preciso até suplementação venosa”, ressalta o Marcelino.
Ribas Filho também reforça a importância do monitoramento constante da saúde do paciente:
“A perda de peso não envolve apenas gordura corporal. O paciente também perde massa magra, vitaminas, minerais e até água, o que pode levar à desidratação. Por isso, o acompanhamento com exames laboratoriais e orientação médica é essencial para prevenir efeitos adversos sérios”, conclui.
Apesar de ainda ser cedo para avaliar os impactos do uso do Mounjaro no caso específico de Thais Carla, os especialistas reforçam que a decisão de iniciar qualquer medicação após uma cirurgia bariátrica deve ser feita com cautela e sempre com orientação de uma equipe multidisciplinar.
Thais contou em suas redes sociais que o uso do medicamento foi prescrito pela equipe médica que acompanha seu tratamento de emagrecimento.