As atividades do agronegócio ocupam 32% do território nacional, apontou um novo levantamento realizado pelo MapBiomas sobre a expansão das atividades agropecuárias no país. O estudo revelou uma intensa dinâmica do uso do solo, com a intensificação na agricultura e melhoria na saúde das pastagens.
De acordo com o mapeamento, divulgado nesta quarta-feira (10), de toda a área ocupada por atividades agropecuárias, mais da metade (56,7%) correspondem à pastagens plantadas e 23% à agricultura. O estudo indica que nos dois setores, há um padrão de uso mais intensivo da terra no Brasil.
Quase dois terços (64%, ou 31,4 milhões de hectares) da área ocupada por lavouras temporárias, como soja, milho ou algodão, registraram mais de um ciclo de cultivo no mesmo ano.Na pecuária, mais de três em cada quatro hectares de pastagens (78%, ou 121,4 milhões de hectares) apresentam vigor médio ou alto, condição essencial para a criação de um maior número de animais por hectare. Apenas 21,6% da área mapeada apresenta indícios de baixo vigor, o que corresponde a aproximadamente 34 milhões de hectares em condição de degradação severa, uma área que, segundo o professor Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do tema Pastagem no MapBiomas, representa uma enorme oportunidade para o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas do governo federal.
Mapa da segunda safra
O MapBiomas lançou a primeira versão do mapa de agricultura de segunda safra, ou seja, os cultivos realizados após a colheita da safra de verão. Em uma versão, que cobre de 2000 a 2024, o mapeamento confirma o milho como a principal cultura de segunda safra no Brasil, com 14,7 milhões de hectares identificados em 2024. Cerca de 95% das lavouras de milho de segunda safra foram implantadas após a colheita da soja. O algodão ocupou 2,5 milhões de hectares e outras lavouras temporárias ou plantas de cobertura somaram 6,5 milhões de hectares. A soja de primeira safra, por sua vez, cresceu de 4,5 milhões de hectares em 1985 para 40,7 milhões de hectares em 2024, representando 65% da agricultura mapeada no ano passado.
O professor Eliseu Weber, coordenador do tema de agricultura do MapBiomas, ressaltou que a segunda safra é um trunfo da agricultura tropical que incrementa o retorno econômico e colabora na conservação da vegetação nativa, permitindo aumentar a produção sem abrir novas áreas. Ele também destacou os desafios: o uso intensivo requer atenção especial com as práticas de manejo para evitar a degradação do solo, e as mudanças climáticas, como a tendência de redução da chuva e alongamento da estação seca, podem inviabilizar o cultivo de segunda safra no futuro. Em termos de dinâmica, o Mato Grosso lidera, com 7,1 milhões de hectares de milho na segunda safra, sendo que 94% desse total é cultivado em sucessão à soja.
Vigor das pastagens e ocupação do solo
Apesar de cerca de 77,8 milhões de hectares de pastagens brasileiras terem mais de 30 anos de idade, as condições de vigor demonstram saúde prevalente, com a maior parte da área classificada entre vigor médio (43%) e alto vigor (35,4%). Houve um ganho líquido de vigor de 6,2 milhões de hectares de pastagens entre 2000 e 2024. Em 2024, as pastagens produziram cerca de 3,63 gigatoneladas de biomassa / forragem, com a Amazônia sendo o bioma com maior produtividade (acima de 25 ton/ha/ano). Os estados do Pará, Mato Grosso e Minas Gerais detêm 69,8% dos 155 milhões de hectares ocupados por pastagens em todo o Brasil.
O estudo também confirmou que a expansão da atividade agrícola no país ocorreu predominantemente sobre áreas de pastagens, enquanto a expansão das pastagens ocorreu sobre vegetação nativa, especialmente formações florestais e savânicas. Um dado positivo é que muitas áreas de pastagens voltaram à condição de vegetação nativa ao longo das décadas, totalizando 4,9 milhões de hectares entre 2015 e 2024. Além da soja e do milho, o mapeamento revelou o crescimento de outras culturas perenes e temporárias: a cana-de-açúcar saltou de 2,2 milhões de hectares em 1985 para 10,1 milhões em 2024, a silvicultura de 1,56 milhão para 9 milhões de hectares e o dendê teve um crescimento expressivo, concentrado no Pará, passando de 10 mil para 240 mil hectares.